Conheça as praias incríveis do Alagoas

Pequenas vilas coloridas, abrigadas por igrejas robustas, aninhadas entre palmeiras e florestas tropicais. Áreas de areia branca que formam piscinas de água morna e cristalina. Durma e acorde com o som do mar de Alagoas.

Praia de Maragogi, em Alagoas, com areia clara, coqueiros e barcos de pescadores ancorados no mar azul-turquesa.
Cenário da praia de Maragogi com coqueiros e barcos de pescadores, um refúgio de águas cristalinas no litoral alagoano. Imagem editada por She Lillas. Créditos: Pixabay, 2025.

Capital Feliz

Quando o avião pousar, teremos “Uma Aprendizagem” ou “O Livro dos Prazeres”, de Clarice Lispector: “Lá estava o mar, a mais ininteligível das existências não humanas”. É o azul mais azul do Nordeste, razão pela qual o pequeno estado de Alagoas é frequentemente comparado ao Caribe. O nome vem das inúmeras lagoas, rios e do imenso mar, enquanto a capital, Maceió, desfruta de um extenso litoral.

A temperatura média gira em torno de 25 graus, amenizada pela brisa marítima e pelas águas mornas e límpidas. Esta era a terra dos índios Caetés, que testemunharam a chegada das expedições portuguesas. O pau-brasil, que deu nome ao país, era uma das principais fontes do comércio de madeira. O primeiro povoamento foi na vila de Penedo, em 1545, às margens do Rio São Francisco, que pertencia à capitania (divisão colonial) de Pernambuco.

Saiba mais: Top 5 passos para reforma um quarto de casal pequeno

Barco de madeira encostado na areia com o mar azul ao fundo, em uma praia de Maceió, Alagoas.
Barco simples encostado na encosta com vista para o mar em Maceió, cenário que mistura cultura local e paisagem paradisíaca. Imagem editada por She Lillas. Créditos: Pixabay, 2025.

Alagoas finalmente se separou dela em 1817, tornando-se um centro estratégico para a produção de cana-de-açúcar e um importante porto comercial durante o reinado de D. João VI. Seu primeiro governador, Sebastião de Mello e Póvoas, desembarcou no porto de Jaraguá, onde permanecem interessantes praças e antigos postos de fiscalização e armazéns, oferecendo um certo romantismo fin-de-siècle.

A igreja de Nossa Senhora Mãe do Povo tem vista para a Praça Dois Leões (uma das estátuas é um tigre), rodeada de casas palacianas, incluindo o Museu da Imagem e do Som e o vizinho Palácio do Comércio, neoclássico, que já foi o centro judicial e político da cidade. Atrás deles, uma réplica da Estátua da Liberdade americana dá para o mar. No centro fica o Monumento à República e o Museu Floriano Peixoto na Praça dos Martírios.

Oferece um acervo do folclore e da cultura alagoana, enquanto o litoral é o cenário das férias de verão, seja na elegante Ponta Verde, na badalada Jatiúca, nos eventos esportivos de Pajuçara, onde se pode visitar piscinas naturais, ou aproveitar a isolada Praia do Amor. No caminho, vemos barracas de tapioca: “Se você não experimentou, você não veio!”, diz nosso simpático anfitrião, Thiago Tarelli, vestindo uma camiseta com os dizeres “Alagoas te faz feliz”.

Vista panorâmica da cidade de Maceió com edifícios à beira-mar e o oceano azul ao fundo sob céu ensolarado.
Cidade de Maceió vista da orla com o mar azul em contraste aos edifícios modernos, unindo natureza e urbanismo. Imagem editada por She Lillas. Créditos: Pexels, 2025.

Cartão-postal

Construído sobre uma ponta de areia entre a Praia do Pontal e a Lagoa de Mundaú, o bairro mais ao sul do Pontal da Barra é um dos mais agradáveis, um lugar para saborear um bom caldo de sururu e assistir ao pôr do sol.

Suas ruas estreitas abrigam restaurantes e lojas que vendem o melhor artesanato alagoano, e quase todos eles estão localizados à beira-mar. Habitado por pescadores e artesãos, é famoso por seus bordados e rendas coloridas (inspiradas em redes de pesca), que são transformadas em toalhas, travesseiros e vestidos.

“Os homens vão pescar, e as mulheres fazem renda”, diz Deusa, que faz renda desde os cinco anos, algo que aprendeu com sua mãe, que por sua vez aprendeu com sua própria mãe. “Os desenhos e as cores estão na nossa cabeça. “Um pouco mais ao sul fica a primeira capital de Alagoas, a antiga Vila de Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul, situada em uma colina acima do mar e fundada originalmente em 1591.

Hoje, é chamada de Marechal Deodoro e é patrimônio histórico nacional. Este é o local de nascimento do soldado monarquista que liderou o golpe militar que destronou o Rei-Imperador português Pedro II e levou à proclamação da República em 1889. Vale a pena visitar sua casa de família do século XVII e conferir as várias igrejas, especialmente Nossa Senhora da Conceição e o complexo franciscano. Este último é incomumente dedicado a Maria Madalena e abriga o Museu de Arte Sacra, instalado em um antigo convento cujas salas de exposição costumavam ser celas de monges, oferecendo uma vista dos antigos telhados que levavam ao mar.

A cidade pode ter perdido seu status para Maceió em 1839; No entanto, mantém um charme oculto e duradouro, que lembra uma vila portuguesa caiada, com suas casas baixas, cores tropicais, palmeiras e castanheiras. Caminhe até a tranquila baía da Lagoa Manguaba para se refrescar e admirar o dia.

Águas Silenciosas

A meia hora de carro ao sul, chegamos à Barra de São Miguel, uma área de pesca e construção naval que oferece turismo em diversas formas, do animado ao mais tranquilo e elitista. Suas águas se conectam às do Rio Niquim e são muito populares nos fins de semana.

A praia mais animada é a Praia do Francês, modestamente proclamada como a mais bonita do país, mas a mistura de lojas, pousadas e cafés nas calçadas garante que ela continue sendo um lugar movimentado. Sua melhor característica são seus quilômetros de areia intocada.

Descemos silenciosamente a lagoa, em uma das poucas reservas de Mata Atlântica em Alagoas, para visitar os bancos de ostras. Sustentada por uma pequena comunidade de pescadores, é uma das melhores produtoras de ostras do país.Sebastiana, mais conhecida como Bastinha, coordena esses passeios organizados pelo eco-resort Kenoa. Ele cobre nossos braços e pernas com um óleo floral para manter os mosquitos da tarde afastados antes de ajudar alguns homens da aldeia a empurrar as canoas que nos levam através da lagoa, que era a antiga rota de evangelização.

Ele nos conta que existem sete tipos de mariscos, incluindo vários caranguejos amarelos e vermelhos, que vivem entre as raízes longas e lamacentas dos manguezais. “Vivemos nesse silêncio. Não se ouve nada, exceto um pássaro ocasional”, diz ele. Apenas um trinado excepcional e o estalar da floresta nos despertam de uma paz tão profunda. Garças-brancas e aves de rapina mergulham inesperadamente na água.

E comemos ostras nos barcos, servidas com sal, limão e melaço, acompanhadas de uma taça de espumante, ao cair da noite. Há também passeios de lancha a partir da marina, outra experiência em Barra de São Miguel. Você pode visitar a Praia do Gunga para mergulho com snorkel ou simplesmente planar tranquilamente ao cair da noite.

Terra da Liberdade

O dia mal começou e já estamos admirando a estátua de Ganga Zumba, com vista para o mar, na Cruz das Almas, em Maceió: “Todo negro que fugiu da escravidão queria voltar para sua terra”, conta nosso guia Rafael. Ganga Zumba foi o primeiro dos grandes líderes do grande Quilombo dos Palmares (século XVII), na Serra da Barriga, símbolo da resistência escravista que se alastrou das plantações de cana de Pernambuco (à qual Alagoas então pertencia) e da Bahia. Seguimos para o interior, cruzando morros verdes, com o gado salpicando a paisagem como flores brancas.

Além da agricultura e pecuária, da indústria química, do cimento, do petróleo e do gás natural, esta é uma área de usinas de cana-de-açúcar desde o século XVII; cruzamos caminhões deixando um rastro doce e alcoólico. Quanto mais nos aproximamos de Palmares, mais caminhantes vemos à beira da estrada. É o Dia da Consciência Negra, e todos estão a caminho da cidade.Ganga Zumba era filho da Princesa Aqualtune, irmã do Rei do Congo, atual Angola, que veio ao Brasil para ser vendido como escravo reprodutor como punição por liderar a Batalha de Mbwila contra os portugueses.

Mais tarde, “ele liderava escravos em fuga para Palmares, que ele organizava politicamente”, explica Gil, que nos guia pelo Parque Memorial Quilombo dos Palmares, uma réplica dos mocambos africanos, um patrimônio cultural inaugurado em 2007. “Esta também é uma história de força feminina.” Zumba resistiu e negociou um tratado de paz com os portugueses em 1678, mas Zumbi, o líder mais famoso de Palmares, recusou o acordo. “Zumbi nasceu aqui, mas foi capturado ainda criança e dado de presente a um padre, mais tarde batizado como Francisco. Um dia, ele escapou para cá.

Criado por Zumba, ele iniciou a maior resistência escrava da história. Ele se pintou e se vestiu como um guerreiro africano, e seus seguidores fizeram o mesmo, então ninguém sabia quem ele era.” Em 22 de novembro de 1680, data de hoje, ele foi capturado. Então, vemos centenas de pessoas, muitas vestidas de branco, comemorando.

Há danças tradicionais africanas e capoeira, e as pessoas vendem chás e bugigangas, comidas e bebidas o dia todo. Na Lagoa dos Negros, demos as mãos e formamos um círculo sob a grande gameleira, onde os guerreiros rezavam por bênçãos e força. O silêncio é mágico. “Você notou aquela brisa leve?”, Gil sorri. “O sangue de reis e rainhas africanos corre em nossas veias.”

Milagres da Natureza

A Rota Ecológica dos Milagres abrange três municípios: a 23 quilômetros de Porto das Pedras, seguido por São Miguel dos Milagres e Barra de Camaragibe, no sul do estado. Pegar a barcaça até São Miguel é uma viagem em câmera lenta a um lugar querido.

Encontramos lojas que vendem artesanato local de alta qualidade. Vamos ao mirante para apreciar a paisagem ladeada por palmeiras e o mar. Em seguida, vemos a modesta Paróquia de Nossa Senhora Mãe do Povo, onde todos são bem-vindos, até mesmo cães, para tirar uma soneca ao ar livre. Angélica cuida da igreja e nos conta que foram os portugueses que a construíram entre 1637 e 1639 (é a terceira mais antiga do estado), mostrando-nos uma imagem querida de Nossa Senhora do Carmo, que remonta à época de sua fundação.Perto dali fica a Fonte dos Milagres, onde as pessoas fazem fila com garrafões.

O Senhor Benedito vem buscar água para sua família beber e cozinhar. “É melhor que água mineral.” E faz milagres? “É uma questão de fé.”Vale a pena fazer um passeio de buggy pelas praias protegidas, como Toque, Lage, Patacho e Marceneiro. Na Lage, há um túnel verde onde famílias de pequenos macacos-sagu nos recebem. Hoje, é uma reserva natural com charmosas cabanas à beira-mar, um heliponto, um campo de golfe e a festa de Réveillon mais popular de Alagoas.

Os pescadores de Porto de Pedras administram a Associação do Peixe-Boi, um santuário no Rio Tatuamunha onde vivem esses mamíferos. Segundo nosso guia, eles estão em perigo de extinção “por causa dos humanos e porque a reprodução é difícil (a fêmea é quem manda)”. Acredita-se que existam apenas 500 no total, e aqui existem cerca de 45. A associação os cria e os devolve à natureza quando atingem 200 quilos. Fomos observá-los em um passeio de jangada e vimos quatro; uma delas nadava ao nosso lado: “É a Telinha, ela só veio dar uma olhada.”

Paraíso Terrestre


“Este mar está se gabando há uma semana”, ouvimos ao amanhecer em Maragogi, contemplando as águas cristalinas e azul-turquesa e os coqueiros balançando ao vento da manhã. As praias são cortadas por rios e riachos, e as descobriremos de barco pelo Pontal de Maragogi. O nome da vila vem do vizinho Rio Maragui, nome tupi dado pelos índios potiguara, “rio dos mosquitos”, pronunciado “Maragogi” pelos portugueses.

Alagoas possui o segundo maior recife de corais do mundo, que suaviza as ondas na praia. Esta área protegida, com 430.000 hectares e 120 quilômetros de litoral e manguezais, abriga uma vasta biodiversidade. Palavras não podem descrever sua beleza. Dizem que cerca de 1.500 pessoas vêm aqui todos os dias, o que pode dobrar na alta temporada, mas há regras. Há praias para grupos, com áreas de lazer e relaxamento, e outras para esportes aquáticos.

As piscinas naturais que se formam entre os corais “fecham” quando a maré atinge um determinado nível, “para que a natureza se recupere”, explica Filipe, nosso timoneiro. As maiores são Magarogi e Japaratinga, mas todas as praias são incríveis: Burgalhau, Barra Grande, Antunes, Xaréu, Camacho, Dourado. Ou a tranquila Peroba, a última antes de Pernambuco.

Nadamos até os recifes e somos cercados por um cardume de peixes listrados de amarelo, conhecidos como sargentos-mors. Quando a maré está muito baixa, a restinga forma um caminho até o mar. “Não é a água com açúcar que nos acalma, mas a água salgada”, diz Filipe. “Aqui, a natureza impera.” Em Maragogi, o mar e o céu se fundem em tons brilhantes de azul; o horizonte é uma linha difusa e onipresente. Somos maiores e menores ao mesmo tempo.

Quando chegamos à costa, tomamos água de coco fresca e comemos lagosta, camarão e abacaxi grelhado com alecrim na Pousada Antonina. Tem gosto de vida. “Alagoas não é bonita, Alagoas é pervertida”, brinca Thiago. E lembramos um verso de Carlos Drummond de Andrade: “O mundo é grande e cabe nesta janela com vista para o mar.”

Leia também

Artigos Relacionados

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui