Azeite de oliva de Portugal: o verdadeiro ouro líquido do Mediterrâneo

Azeite de Oliva de Portugal

O azeite de oliva de portugal é de qualidade extraordinária. Além disso, países como a Itália utilizam azeitonas portuguesas para produzir as suas próprias. Pilar da alimentação saudável, príncipe da dieta mediterrânica, é um tesouro nacional em crescimento.

Sobrevoando a planície, o olhar fixa-se num conjunto infinito de linhas verdes, intercaladas por espaços de traçado irregular, por vezes pontuado por círculos imperfeitos. No passado, há árvores, milhares, milhões de oliveiras alinhadas de ambos os lados do IP8, a estrada que corta a paisagem do Baixo Alentejo, na região de Ferreira. São 3.400 hectares de olival, apenas uma pequena parte dos 356 hectares que existem em todo o país.

Pé de oliveira em Portugal com copa verde e retorcida, cercado por gramado bem cuidado sob céu azul e sol brilhante.
Pé de oliveira em solo português, cercado por gramado verde em um dia ensolarado. Imagem editada por She Lillas. Créditos: Unsplash, 2025.

No centro destes 10 milhões de oliveiras, onde já se podem ver as azeitonas prontas a serem colhidas quando chega o frio, ergue-se o Lagar do Marmelo, um enorme edifício branco do arquitecto português Ricardo Bak Gordon, um dos dois que a Sovena tem em Portugal. Só no Lagar do Marmelo, são produzidos anualmente oito milhões de litros de azeite, uma mera gota em comparação com as 200 mil toneladas produzidas anualmente pela Sovena, uma das maiores produtoras de azeite do mundo, detentora das marcas Oliveira da Serra e Andorinha, presente em sete países e com exportações para 70.O que pode ser melhor do que molhar um pedaço de pão fresco num prato de azeite?

Ou o sabor de uma torrada assada sobre brasas, regada com azeite de oliva em vez de manteiga?

Haverá prazer maior do que uma posta de bacalhau acabada de sair do forno, tostada numa cama de cebola e azeite de oliva?

saiba mais – A beleza da mulher colombiana

Garrafa de azeite de oliva exposta sobre uma bancada rústica, ao lado de azeitonas frescas e folhas de oliveira.
Garrafa de azeite de oliva sobre bancada decorada com azeitonas e folhas de oliveira, representando o sabor e a cultura do Mediterrâneo. Imagem editada por She Lillas. Créditos: Unsplash, 2025.

Os portugueses sabem bem. A tudo isto, junta-se um dos elementos essenciais da dieta mediterrânica — Património Mundial da UNESCO e Património Cultural Imaterial da Humanidade desde 2013 — “uma gordura muito saudável”, recorda Jorge de Melo, presidente da Sovena, reconhecendo que o culto da vida saudável tem contribuído para o crescimento das vendas em todo o mundo.

Cada português consome em média oito litros de azeite de oliva por ano, porém, menos do que espanhóis ou italianos, que não são apenas os maiores consumidores, mas também os maiores produtores. Mas há uma ressalva: apesar de a Itália emergir oficialmente no top 5, grande parte do azeite vendido por marcas italianas vem de outros países.

“A Itália reduziu enormemente a produção, mas tem reputação”, e para suprir a escassez, acaba comprando azeite de Portugal, Marrocos ou Tunísia. “Mais da metade das nossas exportações são vendas a granel, o que é um fenômeno novo”, explica Mariana Matos, secretária-geral da Casa del Aceite, associação que trabalha para promover o crescimento do setor nacional de azeite. E uma parcela significativa vai para a Espanha, vinda de olivais de propriedade espanhola, no caso da Itália, “que é muito deficiente, usa azeite português para fazer muitas de suas variedades”.

No final do ano passado, as exportações portuguesas atingiram € 496 milhões. A Herdade do Esporão, por exemplo, vende 60% da sua produção para o exterior, e a Sovena também regista cerca de 80% do seu volume de negócios no estrangeiro. Desde o início do milénio, a proprietária da Oliveira da Serra começou a olhar para o mercado externo.

A internacionalização inicial começou com a compra de ativos em Espanha e, em 2004, abandonou a compra da marca Andorinha no Brasil. Seguiram-se os Estados Unidos, com a compra do maior importador e embalador de azeite. Em 2006, a Sovena, para além do azeite detido em Espanha, iniciou a exploração em Marrocos e, um ano depois, na Tunísia. No total, foram plantados 15.000 hectares e mais de 19 milhões de oliveiras desde 2007, ou, como diz Jorge de Melo, “quase duas árvores para cada oliveira portuguesa”.

O Maior Olival do Mundo Apesar da magnitude da Sovena, Portugal ainda não é um dos maiores produtores mundiais, mas não há dúvida de quem é o melhor. Não somos nós que dizemos isso. No final de junho, Portugal trouxe de Nova York quatro prêmios Mário Solinas, uma espécie de Oscar dos azeites.

O Conselho Oleícola Internacional reconheceu o azeite frutado verde-claro produzido pela Sociedade Agrícola do Vale do Ouro como o melhor do mundo. Sovena, Fitagro e Elosua também foram homenageados. Um fato que se repetiu ao longo dos anos. “Nos círculos profissionais, já existe o reconhecimento de que Portugal está em um caminho exemplar”, diz Mariana Matos.

Portugal também assume um papel cada vez mais importante em termos de quantidade. Mariana nos recebe no dia em que o Instituto Nacional de Estatística confirmou os números da campanha 2017-2018: 134.600 toneladas, o maior desde que se começou a registrar. “É algo que há dez anos não teria sido possível, nem nos nossos sonhos mais loucos.” Um trabalho árduo que já dura mais de duas décadas, explica Mariana. “A gênese se deu no final da década de 1990, com uma visão diferente para o setor, que vinha morrendo desde a década de 1960 com a introdução da margarina, considerada mais saudável que o azeite de oliva. O setor sofreu imensamente com a queda do consumo.” E piorou.

O período mais sombrio foi mesmo após a entrada na Comunidade Econômica Europeia, em 1986, quando subsídios foram concedidos até mesmo para a demolição de olivais.Uma década depois, quando a revisão da Política Agrícola Comum (PAC) desvinculou as ajudas da produção e “as empresas começaram a concentrar-se no que era mais rentável e não no que fornecia mais subsídios”, o setor do azeite de oliva sofreu uma reviravolta.

“Naquela época, havia planos para reestruturar o setor do azeite; o governo começou a ver o setor como tendo potencial porque o consumo internacional estava crescendo.”

A produção havia caído drasticamente nessa área, apesar de o país possuir olivais de norte a sul desde o início dos tempos. “Além da disponibilidade de água, havia terras que haviam sido liberadas da produção de cereais, e Portugal estava finalmente negociando um plano dinâmico para o azeite de aliva com ajudas extraordinárias que já não existiam em outros países: ajudas diretas para plantação.” Tudo isso aconteceu praticamente ao mesmo tempo que a construção da Barragem do Alqueva, em 2003, essencial para o abastecimento de água na região do Alentejo.

É a combinação perfeita: o apoio europeu, a água abundante e as grandes extensões de terra permitem o surgimento de olivais em 10, 20 e 30 mil hectares no Alentejo, enquanto no resto do país as condições geográficas impedem que se expandam para além das pequenas propriedades, mas novos investimentos estão a surgir. Atualmente, 61% das oliveiras plantadas no Alentejo são propriedade de empresas portuguesas, segundo dados da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva. O total é de 41.243 hectares.

E “o surgimento de novas tecnologias completou a equação”. Hoje, todas as melhores práticas do mundo do azeite estão presentes no Alentejo, não só na plantação, mas também nos lagares e no processamento.

Colheita e LagaresA palavra “azeitona” tem origem no vocabulário árabe az-zait, que significa literalmente “sumo de azeitona”. Mariana Matos explica que “há poucas gorduras que são a essência de um fruto; elas geralmente são extraídas das sementes, em um processo de extração que envolve solventes químicos. Isso não acontece com o azeite.

É apenas um suco.” Do olival, as azeitonas são levadas para o lagar, onde são limpas antes de serem esmagadas. Em seguida, a centrifugação separa o azeite da água e do bagaço de azeitona. O número de lagares evoluiu inversamente à produção. Há uma década, havia quase mil lagares para uma produção que mal ultrapassava 50 mil toneladas.

Hoje, são quase 500 lagares espalhados pelo país. “Temos muito menos lagares, mas os que restam são muito mais eficientes, mais modernos e mais bem equipados.”Uma delas pertence à Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, onde chegam as azeitonas colhidas no olival dos Arrifes, bem como as cultivadas na Quinta dos Murças, situada no rio Douro, com árvores com mais de 50 anos, das variedades Gallega e Negrinha del Freixo. “Onde a colheita é feita manualmente e tem características únicas”, afirma João Roquette, CEO da Herdade do Esporão.

Esta área junto ao rio Douro faz de Trás-os-Montes a segunda maior região do país em termos de produção. Roquette afirma que ambos os olivais do Esporão são certificados como biológicos. Mais conhecida pelo seu vinho, a Herdade do Esporão produz azeite há mais de 20 anos, produzindo mais de 1,5 milhões de litros de azeite, que é vendido não só em Portugal, mas também no Brasil, Canadá e Estados Unidos.Na Grécia Antiga, as oliveiras eram veneradas como árvores sagradas, e o azeite era usado na culinária, como unguento ou para iluminação. Era, e é, verdadeiro ouro líquido. Hoje em dia, ninguém resiste ao azeite português.

Leia também

Artigos Relacionados

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui